segunda-feira, 20 de março de 2017


"Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim." João 14.6.


Esse texto muito conhecido das Escrituras fala sobre duas coisas: o caminho e o destino. Geralmente enfatizamos que Jesus é o caminho - o único caminho - o que, obviamente, é verdade. Mas o texto diz também que Jesus não é o destino desse caminho: ... "ninguém vem ao Pai senão por mim"... Jesus é o caminho, mas o Pai é o destino desse caminho. Ele veio para nos conduzir até o Pai.

"Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar". Mateus 11.27.

Não existe um pai enquanto não existir um filho. A evidência da existência de um pai é exatamente a existência do filho. Ninguém poderia realmente revelar, na sua plenitude, a natureza de Deus como Pai, a não ser o Filho. O Pai conhece o Filho e o Filho conhece o Pai, e o pode revelar a quem quiser. Nenhum dos profetas, nem Moisés e nem mesmo João Batista que, segundo o próprio Jesus, foi o maior dos profetas, poderiam realmente revelar a Deus como Pai. Coube ao Filho a nobre missão de fazê-lo e abrir assim o caminho para que o homem caído fosse redimido e pudesse se tornar filho de Deus e membro da sua família.

"Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm guardado a tua palavra". João 17.6.

Jesus não veio apenas falar ou ensinar sobre o Pai, mas "manifestar o seu nome". Que nome de Deus Jesus veio manifestar? Não era o nome "Jeová", ou o tetragrama "YHWH", que os Judeus não ousavam proferir para não usar o seu Nome em vão, porque eles já os conheciam há séculos. Qual era o nome de Deus que Jesus estava manifestando ao seu povo? O nome de Deus como "Pai". E manifestar é mais do que simplesmente "falar sobre". É mostrar na prática, com a própria vida, como é viver a intimidade que podemos ter com o Pai na qualidade de seus filhos. Em Jesus podemos ver o padrão de vida que podemos experimentar como filhos de Deus!

"Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo". Hebreus 1.1-2.

Hoje o Senhor nos fala pelo Filho, revelando-se como Pai e nos levando a uma nova dispensação da sua obra na vida dos homens, elevando, todo aquele que o recebe, à condição de "filho de Deus", e co-herdeiro com Cristo da vida eterna. (João 1.12-13 e Gálatas 4.7).

Distorções da Revelação do Pai


Essa revelação de Deus como Pai e da nossa condição de filhos é essencial para entrarmos no melhor de Deus para nossa vida. É por carência dessa revelação que muitas vezes passamos por agruras e limitações em nossa experiência pessoal. E o inimigo de nossas vidas sabe disso e procura, de todas as formas, nos privar dessa revelação.

Muito da percepção que temos de Deus como Pai é influenciada pela experiência que tivemos com nosso Pai biológico. A figura e o ofício do Pai biológico em nossa vida é uma influência e uma referência, consciente ou não, da imagem que formamos do nosso Pai celestial. Distorções nessa nossa relação com nosso Pai biológico podem ser projetadas na nossa percepção de Deus como Pai e nos prejudicar em nosso desenvolvimento como filhos de Deus.

Muitas vezes, pessoas que tiveram um Pai distante ou ausente, e não experimentaram intimidade e carinho nessa relação, podem sentir dificuldades de relacionar-se com Deus como Pai também. Tendem a vê-lo como alguém distante ou desinteressado, severo e indiferente, etc. Muitas vezes a pessoa precisa ser curada, em seu íntimo, dessas distorções, para ter liberdade de experimentar real e verdadeira intimidade com o Pai celestial.

As distorções e efeitos deletérios da ausência ou deficiências na relação do filho com seu pai biológico é bem conhecido pela psicologia, e tema de extensivos estudos. Por exemplo, Guy Corneau, um famoso psicanalista canadense, em seu famoso livro "Pai Ausente, Filho Carente", traz uma profunda e sensível análise sobre o silêncio entre pai e filho, seja pela ausência física ou afetiva, e de como isso seria a origem dos problemas mais comuns do homem. Apesar de não ser uma obra cristã, aconselho a todo Pastor, líder ou obreiro envolvido no aconselhamento, que leia e estude esse livro. Ele mostra, por exemplo, como a ausência dos pais nas famílias do pós-guerra trouxe profundos reflexos em toda uma geração de homens que se seguiu. E há efeitos negativos tanto no filho como na filha, decorrentes dessas distorções na relação com o pai.

Temos testemunhado em nossos dias um ataque e uma desvalorização do ofício e do papel do pai como nunca se viu antes na história, a ponto de ser até mesmo considerado uma figura dispensável pelas tendências humanistas e progressistas, pela defesa de conceitos alternativos de família. E o inimigo tem o objetivo de disseminar isso na sociedade e golpear a figura do pai porque, em última análise, estará golpeando também a imagem que podemos chegar a ter de Deus como Pai.  

Conseqüências da Revelação de Deus como Pai


Por outro lado, a revelação de Deus como Pai nos leva ao destino de nossa jornada espiritual: os braços do Pai!

Seguem abaixo pelo menos 5 benefícios que nos são trazidos pela revelação de Deus como Pai:
  1. Identidade: encontramos nossa verdadeira identidade. O homem sem Deus e sem a sua revelação com Pai não sabe de onde vem e nem para onde vai. Mas quando nos encontramos com o Senhor, através de Jesus Cristo, somos trazidos à condição de filhos e encontramos o nosso verdadeiro "eu". João 1.12-13 e Romanos 8.15.
  2. Família: encontramos nossa verdadeira família. Esse senso de pertencer, de ser acolhido e fazer parte de uma comunhão eterna é transformador e nos traz crescimento e maturidade. Pois na família (a Igreja) onde encontramos acolhimento, ensino e mesmo correção. Efésios 2.19 e Hebreus 12.4-13.
  3. Segurança: no Pai encontramos verdadeira e permanente proteção. João 10.27-29 e João 17.15.
  4. Provisão: o Senhor, como Pai, provê todas as nossas necessidades, quando confiamos Nele e o colocamos no lugar devido em nossa vida - em primeiro lugar. Mateus 6.31-33.
  5. Herança: o Pai não somente provê identidade, família, segurança e provisão, mas também herança a seus filhos. Gálatas 4.7 e Tito 3.7.

Reencontrando-se com o Pai


A parábola do filho pródigo (Lucas 15.11-32) fala sobre dois filhos que, apesar de diferentes - um era irresponsável e mundano e o outro "certinho" e religioso - tinham um mesmo problema essencial: não conheciam realmente o seu Pai.

E no texto de Lucas 15.17-24 temos a dramática descrição do filho pródigo caindo em si e lembrando-se do seu Pai, e tudo o que Ele poderia proporcionar-lhe, mesmo que readmitindo-o como servo, agora que havia desperdiçado todos os seus direitos como filho. E ele faz três coisas: 
  1. Levanta-se (toma a decisão)
  2. Vai ter com seu Pai (toma ação)
  3. Confessa sua culpa (toma a atitude correta).

E o Pai, em resposta, manda vestir-lhe a melhor roupa (o redime), poe-lhe o anel (restaura a aliança e a autoridade) e manda colocar-lhe sandálias nos pés (representando liberdade, pois só os livres podiam usá-las). O perdoa e o restaura, integralmente, à sua posição de filho.

E você, tem conhecido verdadeiramente a Deus como Pai? Pelo Espírito Santo, tem experimentado o "Aba", Pai? Tem desfrutado tanto das bençãos como do crescimento proporcionado aos filhos de Deus?

Que Senhor restaure, na prática,  as suas vestes, o anel e as sandálias como as marcas da sua filiação em Deus, através de Jesus Cristo e pela operação do Espírito Santo!

Roberto Coutinho

sábado, 4 de março de 2017

"Porque os pobres, sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes". Mateus 26.11

Há alguns dias atrás esse texto chamou muito a minha atenção: ..."mas a mim nem sempre me tendes"... Claro que Jesus referia-se ao fato de que após ressuscitar e subir ao céu, não teríamos mais a sua presença física entre nós. Mas creio que há mais coisas que devemos aprender sobre sua presença a partir dessa sua declaração.

Contrapondo essa afirmação de Jesus com uma outra que Ele fez mais adiante, em Mateus 28.20, afirmando que estaria conosco "todos os dias até à consumação do século", verificamos que há diferentes dimensões da presença de Jesus em nossa vida, que vai desde a dimensão física e manifesta até a uma dimensão mística e imperceptível, baseada no seu atributo divino da onipresença. E creio que entender como se dá essa relação entre nossa experiência com Ele, nessas diferentes dimensões da sua presença, desempenha um papel chave em nosso crescimento em Deus. E eu quero fazer aplicação prática desse entendimento em nosso relacionamento com o Senhor.

Creio que podemos classificar a presença de Jesus (ou de Deus) em nossa vida, pelo menos, nos seguintes níveis:

- Presença manifesta (Epifania, perceptível aos 5 sentidos);
- Presença sensível consciente (que se pode sentir);
- Intervenção perceptível inconsciente (que se pode constatar a posteriori ou por evidências);
- Onipresença (imperceptível aos sentidos mas constante e em todo lugar).

A "epifania" é um termo teológico oriundo da palavra grega "epiphanéia" que significa "aparição" ou "manifestação visível" de algo invisível ou espiritual. É aplicada às raras situações onde Deus se manifestou visivelmente aos olhos humanos, como quando apareceu a Moisés na sarça ardente, no Sinai e na fenda da penha, onde o viu de relance pelas costas (Êxodo 33.1721-23). Na filosofia o termo "epifania" é usado também para descrever os momentos em que se obtém uma compreensão repentina de uma verdade profunda ou que se buscou por anos, um insight ou entendimento profundo de uma verdade transcendental. Mas não é nesse sentido filosófico que estou aplicando a palavra, mas no teológico.

Foram raros os momentos de epifania registrados nas escrituras e na história, mas a vida de Jesus pode ser definida, em um certo sentido, como a mais marcante e prolongada epifania da história, pois Ele era a revelação perfeita do Pai, a encarnação e presença visível de Deus entre os homens. Imagine: quem estava pessoalmente com Jesus, em um recinto ou em um campo ao ar livre, estava diante da própria presença manifesta de Deus entre os homens! Palpável e em carne e osso. Era algo extraordinário e é essa presença que Jesus disse, no texto inicial desse estudo, que nem sempre teríamos entre nós. 

Mas o Senhor Jesus disse que estaria conosco todos os dias até a consumação do século. Que Ele se manifestaria a todo que o ama e guarda os seus mandamentos (João 14.21). Fala da presença sensível consciente, quando o experimentamos e somos transformados pelo seu amor. E é essa experiência que entendo ser fundamental para o nosso crescimento em Deus, e que desejo fazer aplicação prática sobre como ela se dá e o que produz em nossa vida.

Você está Experimentando a Presença Real de Jesus?


Em Apocalipse 2.1-7 temos um texto muito conhecido e, ao mesmo tempo e a meu ver, surpreendente. Pois a mensagem de Jesus à igreja em Éfeso elenca uma série de qualidades que eles tinham e aponta também uma falha fundamental que apresentavam: faziam muitas coisas importantes e louváveis mas, ao mesmo tempo, haviam perdido o "primeiro amor". Eles tinham perseverança, não suportavam os homens maus, punham à prova e reprovavam os falsos apóstolos, suportavam provas por amor a Jesus (e tudo isso fazia deles melhores cristãos do que a maioria de nós hoje) mas estavam falhando nesse ponto essencial: haviam perdido contato com o real e verdadeiro amor de Jesus e por Jesus - o primeiro amor. 

Eu entendo que isso fala de ter perdido um relacionamento íntimo, de amor e correspondência com Jesus, onde a sua presença é real e transformadora. Essa presença é fundamental e deve ser uma realidade constante em nossa vida. Você está imerso e experimentando, constantemente, essa presença real e perceptível de Jesus? É uma força interior que te direciona e influencia todas as áreas da sua vida, de maneira real e marcante? E não estou falando de ir à igreja, dar os dízimos e não assistir novelas. Os irmãos de Éfeso faziam muito mais que isso e haviam perdido o seu primeiro amor por Jesus.

Isso me faz lembrar do episódio onde os pais de Jesus, quando ele tinha 12 anos, o deixaram para trás, em Jerusalém, por todo um dia no caminho de volta, sem darem-se conta disso (Lucas 2.41-52). E tiveram de voltar para Jerusalém, e ainda levaram três dias para encontrá-lo. Não é interessante como isso parece acontecer conosco também? Perdemos Jesus em nossa caminhada, em algum ponto onde nem nos lembramos mais onde foi. E precisamos procurar a Jesus novamente, para termos um novo encontro e uma nova experiência com Ele. Você já se sentiu assim alguma vez?

É o que havia acontecido com os irmãos da igreja em Éfeso, e é o que acontece conosco muitas vezes também. "A mim, nem sempre me tendes" - disse Jesus. É essa palavra que ecoou em meu coração quando li o texto inicial desse estudo. Precisamos cultivar e saber aproveitar a presença de Jesus, como a mulher de Betânia, com o vaso de alabastro, fez (Mateus 26.6-13).

E quando perdemos a direção e a presença real de Jesus - o primeiro amor - como fazemos para reencontrá-lo? É uma boa pergunta, não é?

Reencontrando a Presença Real de Jesus


No texto de Apocalipse 2.5 temos a receita do próprio Jesus sobre como voltar a encontrá-lo e viver novamente no "primeiro amor":

"Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e removerei do seu lugar o teu candelabro, caso não te arrependas". Apocalipse 2.5.


Ele nos aconselha a fazer três coisas, ou três passos que devemos percorrer:


1. Lembrar de onde caímos: onde foi que começamos a perder a direção? Em que ponto? Quando foi e por que aconteceu? Foram certas decisões que tomamos, certas pessoas com quem nos relacionamos? Por causa de algum trabalho ou estudo que iniciamos? Sejam quais forem os fatores que nos fizeram perder essa intimidade e presença sensível de Jesus, precisamos identificá-los. Pois assim podemos fazer as correções necessárias. E porque também, tenho aprendido, Deus sempre retoma sua obra em nós no ponto em que parou, mesmo que tenha sido há anos atrás. Os pais de Jesus precisaram voltar e encontrar Jesus onde o haviam esquecido - e levou 3 dias para eles chegarem lá! O Senhor não tem atalhos. Ele sempre retoma sua obra em nós do ponto em que paramos de corresponder a Ele.


2. Arrepender-se: uma vez que você identificou os fatores que o afastaram da intimidade e do amor perceptível de Jesus, você deve reconhecer que foram errados, por mais que se tratem de coisas caras e importantes para você. É um processo crítico e algo que deve acontecer em seu íntimo. O desejo de voltar a experimentar o amor de Jesus deve ser cultivado até ao ponto em que leve você a deixar tudo que o impede de experimentá-lo e passar a segui-lo (Lucas 5.11) - isso é arrependimento. Esse é o objetivo final de tudo aquilo que Jesus faz em nossa vida: nos levar a deixar tudo para segui-lo.


3. Voltar à prática das primeira obras: essa é uma coisa bem prática e essencial. O que você costumava fazer e deixava o seu coração tão apaixonado por Jesus? Participava de vigílias? Comece a participar de novo. Evangelizava nos bairros, hospitais ou presídios? Recomece. Visitava pessoas para falar do amor de Jesus? Volte a fazê-lo. Lia muito a Bíblia e derramava seu coração diante do Senhor? Comece a fazer isso de novo, agora mesmo. Era uma pessoa mais simples e humilde, sem se importar com as aparências? Pode estar aí algo que volte a trazer-lhe a alegria da salvação e um novo perfume de Cristo por onde quer que você passe. Volte às primeiras obras. Volte aos fundamentos. Restaure os princípios corretos negligenciados ao longo do tempo.


Onde está Jesus? Onde você o deixou da última vez na qual teve um encontro marcante e verdadeiro com Ele. Volte lá, a essa posição e atitude, que o Senhor o está esperando de braços abertos.

Roberto Coutinho