quinta-feira, 6 de março de 2014



"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos". Mateus 5.6

Fala-se muito sobre erradicar a fome no País ou no mundo. Mas, na verdade, o problema central não é a fome em si, mas sim as condições em que ela não pode ser saciada. A fome é algo bom. É um mecanismo necessário do organismo que nos leva a alimentar-nos corretamente e com a regularidade que nosso organismo necessita. É um dispositivo de sobrevivência. Por outro lado, quando não se tem fome é porque algo não vai bem com a saúde. Uma boa alimentação é um requisito fundamental para se ter saúde física e emocional, e a fome é um fator regulador desse processo.

A Bíblia nos ensina que há também uma outra dimensão da fome humana: a espiritual. O homem tem fome de justiça. Tem sede de Deus. Fome e sede de um significado maior para a vida, de relevância, de amor, de realização pessoal e familiar. Um senso de origem e destino que, quando ausente, produz um vazio interior, uma ausência e um sentimento de incompletude. Em linguagem bíblica, produz uma fome espiritual.

Em Amós 8.11-12 temos uma palavra profética que creio ser uma descrição exata dos dias que vivemos, tanto na Igreja como no mundo:

"Eis que vem dias, diz o Senhor Deus, em que enviarei fome sobre a terra, não de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor. Andarão de mar a mar e do Norte até ao Oriente; correrão por toda parte, e não a acharão".

Não é o quadro que vemos hoje na Igreja e no mundo? Pessoas famintas, sentindo necessidade de algo maior para si, correndo de lá para cá e não encontrando o que realmente procuram. No mundo, buscam suprir esse vazio interior com fama, riqueza, poder e toda sorte de prazeres: bebidas, sexo, drogas, etc. Ou mesmo com um relacionamento, uma causa política ou algo assim. Já na Igreja, observa-se milhões de pessoas buscando, de uma forma ou de outra, uma palavra, uma cura ou um novo nível de experiência espiritual, às vezes até de forma inconsciente e sem saber exatamente o que se está procurando. Mesmo que experimentando alguns milagres e curas, vagam pela vida com um sentimento de que há algo maior a se experimentar. Algo que ainda se está perdendo. Submetem-se até mesmo a doutrinas e práticas estranhas, a qualquer coisa que possa ser uma resposta espiritual para suas necessidades interiores mas, em geral, a superficialidade e a fome latente por algo mais profundo são nítidas no meio do povo de Deus. Qualquer análise isenta e honesta nos leva a essa constatação.

O Avivamento no Reinado de Asa

Agora leia o texto de 2 Crônicas 15.1-15. Nele encontramos a narração do avivamento espiritual que sobreveio a Judá e Benjamim, como resultado da palavra profética trazida por Azarias, filho de Odede, ao Rei Asa, de Judá.. E podemos aprender com essa história alguns princípios que podem nos conduzir, de uma vida mediana com o Senhor, medíocre e de vitória parcial, para uma vida abundante, de provisão e vitória, experimentando o melhor de Deus para nossa vida.

Nos versículos 1 e 2 vemos que a palavra profética de Deus foi trazida sobre o rei e do povo. Jesus disse em Mateus 4.4 que "nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus" (ver também Deuteronômio 8.3). Nós sempre precisamos estar debaixo de uma palavra de Deus para nossa vida e ministério, uma palavra profética e de direção. O apóstolo Paulo, em 1 Timóteo 1.18, exorta o seu discípulo a combater o bom combate "conforme as profecias" que havia recebido. Devemos sempre estar caminhando debaixo de uma palavra viva de Deus para nós. Quando recebemos uma palavra procedente da boca de Deus, isso gera fé, inspiração e direção para caminharmos. Gera energia espiritual para a nossa jornada espiritual.

Ainda no versículo 2 temos o que podemos chamar de princípio da proporcionalidade recíproca. Ou seja, Deus vai estar conosco na mesma intensidade com que estamos com Ele. Vai nos levar a sério na mesma proporção com que nós o levamos a sério. Se o buscarmos de todo o coração, vai revelar-se a nós. Se o deixarmos, Ele também nos deixará. E não existe nada mais triste do que deixar ao Senhor e ser deixado por Ele.

Nos versículos 3 e 4 lemos que o Israel estava há muito tempo sem o verdadeiro Deus, sem sacerdote que o ensinasse e sem lei. Ou seja, eles estavam vivendo uma situação de formalismo (sem comunhão verdadeira com Deus), sem cobertura e sem ensino prático, da parte de Deus, para a sua vida diária. Esses são elementos que devem sempre estar presentes em nossa vida: comunhão verdadeira com Deus, cobertura espiritual e ensino (discipulado e/ou conselho). A falta desses aspectos nos tornam vulneráveis e nos conduzem à apatia (letargia) espiritual, que é o que o povo estava experimentando. Mas quando eles romperam esse ciclo e buscaram ao Senhor de todo o coração, Ele se deixou achar por eles (v 4).

Em seguida temos uma descrição do povo de Deus como resultado de sua vida morna com Deus (versículos 5 e 6): falta de paz, perturbações, conflitos e angústias. Quando presentes, esses são sintomas a indicar que nossa relação com Deus está precisando de uma renovação. Que estamos precisando acertar contas com Ele, nos quebrantar e renovar nossa aliança com o Senhor, em uma nova entrega e disposição para o servir melhor, em novidade de vida. Esse é o objetivo de tudo aquilo que Deus faz em nossa vida: nos levar a uma nova entrega, a deixarmos tudo que nos impede de realmente o servir em espírito e em verdade.

Vejam que o povo não estava totalmente afastado do Senhor. Se lermos o capítulo anterior, veremos que eles tinham começado com intensidade sua volta para Deus, derrubando altares de outros deuses e abolindo o culto a eles, tinham voltado a cumprir a lei, fortificado cidades e derrotado alguns inimigos ao redor. Mas parece que eles haviam caído em rotina e estavam desanimados agora. Não é assim também conosco muitas vezes? Mesmo começando bem e nos entregando totalmente ao Senhor, depois de um tempo, chegamos a um ponto em que sabemos que precisamos algo novo de Deus, para deixarmos de viver uma vida infrutífera, sem resultados, sem unção e direção. Chegamos a um ponto de conflito onde temos que encontrar uma nova correspondência ao mover de Deus em nossa vida.

Então, no versículo 7, o profeta do Senhor traz a eles um palavra maravilhosa, de esperança e encorajamento:  "Mas sede fortes, e não desfaleçam as vossas mãos, porque a vossa obra terá recompensa". Não é maravilhoso? O Senhor sabe aquilo que você já fez. Ele não esqueceu da sua entrega inicial. Ele não desiste de nós. E Ele anuncia que está trazendo um novo tempo, um novo mover sobre sua vida, que vai levar você a um novo nível de vitória Nele.

No restante do texto, dos versículos 8 ao 15, vemos como o rei e todo o povo renovaram a sua aliança com Deus, com coração sincero e alegria, e entraram em um novo tempo de avivamento espiritual, onde a fome e sede de justiça do povo foi saciada, onde eles encontraram, no Senhor, o seu contentamento. E no final do versículo 15 temos o resultado desse processo:

"O Senhor lhes deu paz por toda parte". 2 Crônicas 15.15b.

Buscando Alimento no Lugar Certo 

Na história de Asa vemos que o povo buscou o alimento para o sua sequidão espiritual no lugar certo: na presença de Deus, buscando-o de todo coração. Veja o que Davi diz nesse Salmo:

"Na tua presença, Senhor, estão os meus desejos todos, e a minha ansiedade não te é oculta" 
Salmos 38.9

Como dissemos no início deste estudo, o problema não é a fome, mas a eventual impossibilidade de saciá-la. Davi tinha seus desejos, sua fome espiritual, sua ansiedade. Mas ele as apresentava constantemente ao Senhor. É Nele que devemos buscar o alimento para nossa alma, a água viva para nossa sede espiritual. Você pode ter suas carências, necessidades espirituais e até mesmo ansiedades, mas é no Senhor que você deve buscar sustento e direção. E o salmista descreve o que Deus faz na vida daqueles que são alvos da sua bondade e misericórdia:

"Rendam graças ao Senhor por sua bondade e por suas maravilhas para com os filhos dos homens! Pois dessedentou a alma sequiosa e fartou de bens a alma faminta". 
Salmos 107.8-9

Uma vida plena e de vitória é o resultado de termos nossa fome e sede de justiça saciadas pela revelação de Jesus, que é o pão da vida (João 6.35). Quem vier a Ele jamais terá fome e quem crer Nele jamais terá sede. Ele é a resposta perfeita de Deus para todo homem!

Roberto Coutinho