terça-feira, 7 de julho de 2015

O que está por trás da Agenda de Gênero?




"Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito". 

1 Timóteo 2.1-2.

Apesar de não haver qualquer ênfase nas Escrituras sobre a atuação da Igreja na esfera política, por outro lado, há uma série de recomendações no sentido de influenciarmos o poder secular através de nossas orações (1 Timóteo 2.1-2), da defesa da nossa fé (1 Pedro 3.14-15) e de estarmos precavidos contra o "espírito desse mundo" (1 João 2.15-17; 2 Coríntios 2.11). Estes textos nos mostram pelo menos três coisas: 

1. Devemos nos preocupar com o poder governamental deste mundo e a influência que pode ter sobre nós.
2. É importante entendermos o que cremos e sermos capazes de defender a nossa fé.
3. É necessário discernirmos o "espírito deste mundo" e não ignorarmos os desígnios do mal.   

Watchman Nee, no livro "Não Ameis o Mundo"*, fala sobre a "mente que se oculta por trás do sistema": uma organização espiritual por trás da política, educação, literatura, ciência, arte, lei, comércio, música, etc, que visa a dar suporte ao plano satânico de fazer oposição sistemática aos desígnios de Deus. Há sempre uma fonte espiritual por trás de toda iniciativa prática do mundo hostil aos princípios de Deus.

Não é novidade para ninguém o debate atual sobre o que se convencionou chamar de "Agenda de Gênero": a desvinculação do sexo biológico do sexo comportamental. Ou seja, a ideia de que o sexo herdado biologicamente por uma pessoa (masculino ou feminino) não define, necessariamente, o comportamento afetivo e sexual que ela vai adotar (gênero). E essa ideologia tem sido desenvolvida por intelectuais ao longo dos anos e defendida sistematicamente em diferentes fóruns de repercussão internacional. E buscaram inspiração nessa ideologia vários movimentos como o Feminismo, o Gayzismo, a legalização do aborto, a união homossexual e outros. E o efeito deletério nada desprezível dessa ideologia é a desestabilização do conceito tradicional de família: um homem, sua mulher e seus filhos. E uma ideologia que, a luz do que estamos dizendo, tem uma clara origem espiritual cujo objetivo é atingir uma instituição fundamental no plano de Deus para o homem: a família!

Mas uma pergunta fundamental que se deve fazer é: de onde vem essa ideologia? qual a sua origem do ponto de vista histórico? Seu objetivo é realmente defender a liberdade de gênero ou tem outra intenção maior por trás? É a essa e a outras questões que queremos trazer algumas respostas. Como dissemos, é fundamental que o cristão tenha conhecimento dessas questões, para orientar suas orações, sua fé, seu comportamento e suas ações.

Uma leitura que recomendamos fortemente a todos é a do resumo do livro de Dale O'Leary, "A Agenda de Gênero" (link para download aqui), que traz revelações estarrecedoras, com farta referência a documentações, sobre o desenvolvimento orquestrado, em escala mundial, dessa mentalidade e que já bateu às portas da legislação brasileira, com vários projetos de leis que pretendem implantar a agenda de gênero em várias esferas da sociedade, esperando apenas para serem votados e aprovados. Um perigo do qual todos devemos estar cientes. O projeto de reforma do Código Penal (PLS 236/2012), por exemplo, adiciona como “agravante do crime”, em seu Art. 75, o “preconceito de (...) orientação sexual e identidade de gênero”; o Plano Nacional de Educação (PLC 103/2012), já aprovado na Câmara, estabelece como uma de suas diretrizes a “promoção da igualdade (...) de gênero e de orientação sexual”. Um projeto de lei, o PL 5002/2013 (ver aqui), sobre identidade de gênero, prevê que um adolescente, mesmo sem a autorização dos pais ou responsáveis, pode solicitar assistência à Defensoria Pública para autorização judicial para intervenção cirúrgica para transexualização total ou parcial - mudança de sexo (Artigo 5º. §1º e §2º.). 

As origens dessa ideologia de gênero remontam ao Marxismo. Por exemplo, no trabalho de Friedrich Engels, escrito em parceria com Karl Marx (ainda que publicado após a morte de Marx), "A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado", eles colocam a sujeição da esposa ao marido como a primeira forma de poder e de dominação de classes. Veja abaixo um trecho dessa obra:

“Em um antigo manuscrito não publicado escrito por Marx e por mim mesmo, em 1846, eu encontrei estas palavras: ‘A primeira divisão do trabalho é aquela entre o homem e a mulher para a propagação da prole’. E hoje eu posso acrescentar: ‘A primeira luta de classes que aparece na história coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher no casamento monogâmico, e a primeira opressão de classe coincide com a submissão do sexo feminino pelo masculino”.
(Friederich Engels: A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado).

Não é por outra razão que as líderes intelectuais dos movimentos feministas radicais sempre tiveram afinidade com o Marxismo e viviam citando Marx e Engels em suas obras, como Kate Millet, em seu livro "Política Sexual":

“O grande valor da contribuição de Engels para a revolução sexual reside na sua análise do casamento patriarcal e da família. Na submissão do feminino ao masculino, Engels, assim como também Marx, compreenderam o protótipo histórico e conceitual de todos os subseqüentes sistemas de poder, de todas as relações econômicas opressoras e o próprio fato da opressão em si mesmo”. 
(Kate Millet)

Engels chegou ao disparate de considerar que a prostituta (cortesã) é moralmente superior à mulher casada, porque a primeira vende o seu corpo em parte, como um trabalhador assalariado, enquanto a casada vende de uma vez, para sempre, como escrava - ver no documento "Agenda de Gênero" mencionado acima, página 18, terceiro parágrafo. Portanto, para o Marxismo, a implantação do Comunismo demanda a eliminação do papel da mulher como esposa, no particular, e a família como núcleo de autoridade e da aquisição e transmissão da propriedade, no geral, como elementos a serem suprimidos progressivamente da sociedade, até se chegar ao comunismo puro - a utopia do novo homem e da sociedade justa.

Como eliminar a propriedade mostrou-se historicamente uma tarefa quase impossível para o movimento revolucionário, resultando na fragmentação da família, eles resolveram primeiro focalizar na estatização da economia (que com o tempo também naufragou) e, depois, na guerra cultural e de ocupação dos espaços de poder para, gradativamente e sem despertar grande alarde, ir impondo seus programas, como a agenda de gênero, que pavimentam o caminho para a conquista do poder e da hegemonia política. O que vai lhes permitir, finalmente, implantar a sua utopia de uma sociedade supostamente igualitária - o que, na realidade, é só a justificativa para a instalação de um ente de poder com controle total sobre a sociedade. 

Nessa busca de poder e hegemonia, instituições como a família e a Igreja (na verdade as religiões em geral e o cristianismo em particular) são obstáculos e inimigos a serem suplantados. Ao mesmo tempo em que causas como o Feminismo, o Gaysismo, legalização do aborto, ideologia de gênero, etc, tornam-se aliados conscientes ou não desse projeto de poder - daí o frequente apoio dos partidos de esquerda a essas causas - a debilitação da família, como núcleo de autoridade e propriedade, o combate ao pensamento conservador e aos valores morais, são objetivos permanentes e estratégicos dos movimentos de esquerda. E isso é uma ameaça à nossa liberdade e ao ambiente propício para a pregação do evangelho e o pleno exercício de nossa vocação cristã. 

Em resumo, dentro do que cremos, é a "mente que se oculta atrás do sistema" opondo-se aos propósitos de Deus. E como recomendou Paulo, não devemos ignorar seus desígnios. Devemos orar e interceder por aqueles que estão em posição de poder. Devemos responder aos que nos indagam o motivo da nossa esperança. Devemos discernir o "espírito desse mundo" e suas estratégias.

Roberto Coutinho



* NEE, Watchman. Não Ameis o Mundo. 1ª Edição. São Paulo. Editora dos Clássicos. 2003.